segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

#1: Ninguém Escreve ao Coronel



O meu primeiro livro do ano é especial pra mim....

A gente sabe que 2014 foi difícil até o último momento. O pessoal lá do andar superior resolveu fazer uma limpa cultural aqui pela terra e levaram muita gente boa pra lá. Dizem que tavam preparando um congresso cultural. Mandaram chamar atores, escritores, cantores e, entre tantos, um me doeu em especial, o incrível Gabriel Garcia Marquez, o Gabo.

Ele foi um incrível escritor colombiano que, através de suas histórias, mostrava ao mundo dominado pela visão eurocêntrica, os problemas da paupérrima e desconsidera América Latina. A luta pela sua identidade, pra que os anacronismos e as barreiras políticas parassem de cegar os de fora, e os fizesse enxergar como gente o povo do lado de 'cá' do Atlântico. 

O seu jeito de escrever é tão sublime e fluído que mesmo tendo um grau de complexidade considerável nas suas histórias (ele desfila personagens e nomes que confundiriam o mais atento dos leitores, mistura história e política com lugares míticos e personagens incríveis) pode ser facilmente lido por pessoas de toda idade. 

Quando terminei de ler Cem Anos de Solidão, um livro grosso que tem uma genealogia longa e complexa, fiquei tão apaixonada, tão entregue que insisti pra minha sobrinha de 15 anos (que também é leitora inverterada) que lesse. E ela devorou-o.

Seu jeito de escrever é especial e único, me lembra em vários pontos Saramago, embora tenham visões diferentes e peculiaridades bem distintas.
Ele criou um estilo que chamam de Realismo Fantástico, nome do qual ele mesmo nunca se agradou, mas que ilustra bem o tipo de escrita dele. Posso citá-lo quando reler Cem Anos de Solidão e o resenhar, mas a sensação principal é que tudo, inclusive o irreal, pode ser real e corriqueiro.
Sobre Gabo, os livros que mais conheço e acredito que sejam os mais famosos são o maravilhoso Cem Anos de Solidão, O Amor nos tempos do Cólera e Memórias de Minhas Putas Tristes.

Comecei muito bem o ano, com um livro curtinho dele, quase um conto esticado, chamado Ninguém Escreve ao Coronel.



Essa é a exata capa do meu livro, capa essa relativa à publicação pela Editora Record. Comprei ano passado vários livros na Saraiva. Entretanto, alguns da lista não estavam disponíveis em estoque e a Saraiva só conseguiu reunir os títulos na virada. Chegaram pouco depois do ano novo. Entre eles, está essa minha pérola.



Como eu ia dizendo, o livro é um conto 'grande demais', por assim dizer. Ele conta a história de um coronel que vive numa pequena cidade e espera, há mais de 15 anos, uma carta que trará a notícia da liberação da sua aposentadoria. Enquanto a espera não finda, ele vai sobrevivendo quase em petição de miséria com sua esposa, ambos - como dito por eles mesmos - 'órfãos' de um filho perdido, morto durante uma rinha de galos acusado de subversão pelo governo vigente, ditatorial e censurador.

É um livro de viés político que, apesar de ter sido escrito anos antes de Cem Anos de Solidão, remete a fatos posteriores ao fim da revolução que é um dos acontecimentos principais do livro.

Após a rendição dos revolucionários, grupo ao qual ele estava integrado, ele obteve a promessa de receber a indenização por fatos do período e de receber sua pensão merecida.

É uma história humana, extremamente humana e tocante, que mostra que aqueles que estiveram trabalhando a favor do governo da ocasião receberam benesses e favores, enquanto pesou sobre todos os reservistas da revolução a morte lenta, à míngua, sem que nenhum olhar se voltasse sobre eles.

O último dos oficiais a esperar pela pensão (os demais morreram esperando), o coronel cuida da mulher asmática, que cuida dele e ambos cuidam do galo de briga, herança do filho morto.

Gabo revelava no livro um espelho, porque ele mesmo morava na Europa e passava toda sorte de dificuldades, falido e sem perspectiva de mudanças.

Para os europeus, a América do Sul é um homem de bigodes com um violão e um revólver – brincou o médico, rindo sobre o jornal. Não entendem nossos problemas.

Pra mim, fã inconteste do Gabo, quanto mais ler dele melhor.
Pra qualquer um que goste de uma leitura fluida, de ampliar sua visão, enxergando o mundo dos outros, a história do coronel e de sua pequena e triste família não está longe da realidade de muitos conterrâneos nosso e é sempre bom sair do nosso mundo ideal para enxergar além dos muros.

Completamente indicável, Ninguém escreve ao Coronel abre doce e tristemente a lista dos meus livros de 2015.


1 comentários:

  1. Estou com meu primeiro livro do Márquez para ler aqui e é justamente o mais famoso dele, Cem Anos de Solidão! Espero gostar tanto quanto você gostou! Vou ficar de olho para quando vc postar a resenha dele! :D

    Samara - Infinitos Livros

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